quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ver-o-peso de Max Martins (Poeta e Escritor Paraense)

A canoa traz o homem
a canoa traz o peixe
a canoa tem um nome
no mercado deixa o peixe
no mercado encontra a fome


a balança pesa o peixe
a balança pesa o homem
a balança pesa a fome
a balança vende o homem


vende o peixe
vende a fome
vende e come


(...)pese o peixe
pese o homem
o peixe é preso
o homem está preso
presa da fome


ver o peixe
ver o homem
ver a morte
ver o peso.

A Região Amazônica possui uma diversidade de plantas, entre elas as ervas aromáticas que fazem parte da cultura dos paraenes. O pátchouli, a priprioca, a Castanha-do-Pará, entre outras fazem parte dos ingrendiente que compõem o tradicional "banho de cheiro" - tão famoso entre os paraenses.

Quem já passou pelo setor de ervas no Mercado do Ver-o-peso, percebe que o que não falta são opções de perfumes e cada um com uma finalidade. Dona Coló, uma das muitas erveiras que trabalham no Veropa ressalta que a cultura paraense jamais apaga, principalmente quando se fala em cheiro. "Isso é a minha vida, não tem como fazer outra coisa. O paraense tem essa tradição: acredita no poder das ervas", declarou dona Coló.

"Sou a quarta geração que mantém esse trabalho de divulgar e mostrar para quem não conhece o Cheiro do Pará", comenta a erveira.

Conhecimento das erveiras inspira empresas

As matérias primas da Região estão cada dia conquistando o mercado da perfumaria e de comésticos. A loja Chamma, empresa que existe há 50 anos, possui um trabalho diferenciado que é utilizar essa matéria prima até nas embalagens de decoração dos produtos. São perfumes, cremes, hidratantes, esfoliantes, sabonetes e outros materiais utlizados no merdado de cosméticos.

Frutos do Ver-o-Peso

Taperebá, Buriti, Muruci, Castanha do Pará, Bacuri, Cupuaçú, Açaí, Pupunha entre outras. Uma diversidade de frutas exóticas que enriquecem a gastronomia paraense. Essas frutas geralmente são encontradas na beira dos rios, igarapés ou nos altos das terras firmes. Algumas dessas espécies ainda não são conhecidas fora da região, ao contrário de outras que tem destaque internacional. É o caso do cupuaçú. Fruto de uma árvore originária da Amazônia Brasileira, com gosto doce-azedo, surge no período de Janeiro à Maio. Além de ser consumida de diversas formas, em sobremesa principalmente como sorvetes, doce, geleia e em bebidas
como sucos e licor.

Já na mesa, em pratos preparados por chefes de cozinha fora do País, o fruto é bastante conhecido e apreciado. O chef Ophir Oliveira, que morou por mais de 4 anos na Espanha, afirma que o prato que tem o fruto no cardápio é o mais procurado. “Por ser um ácido e doce, o fruto misturado a carne de uma ave ou de um súino, fica na medida certa, saboroso...Taí os espanhois para contar...basta perguntar”, diz Ophir Oliveira.

O chef tem razão, não é à toa que Myrian Suelo, bancária, veio para o Brasil conhecer a terra dos frutos, que segundo ela, é o mais saboroso que já experimentou. Em visita ao estado do Pará, Myrian foi ao mercado ver-o-peso, ver de perto a diversidade dos frutos da região. “Amei, ver todo aquele colorido e ter o prazer de experimentar o fruto in natura. O cupuaçú então..... não vou perder essa oportunidade e levar bastante coisa pra casa, afinal eu mesma poderei preparar o cardápio para minha família”, diz ela.

Mas na região não é só o cupuaçú que é destaque. A variedade de frutas gera emprego e renda aos paraenses. No centro Belém, uma fabrica de bombons, que já tem 16 anos no mercado produz diversos tipos de doces, os mais criativos possiveis..salame de cupuaçú com castanha, cigarro e charuto de chocolate com cupuaçú, bombom de buriti, doce de bacuri entre outros. Os produtos são exportados e saboreados pelo mundo todo e principalmente por quem visita a região.

As variedades de frutos confirma a vocação do estado para a fruticultura e a cada ano o Pará vem se destacando como um dos mais importantes produtores de frutas e de sucos para a exportação do País. De 2004 até 2009, houve um crescimento de 160% nas exportações e no ano passado, o aumento foi de 57,68%. Os sucos estão em 7º lugar e as frutas 8º na pauta de exportação do agronegócio paraense. Não é a toa que o mercado ver-o-peso, conhecido como a mior feira livre da America Latina, é bastante visitado.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ver-o-peso 384 anos no imaginário paraense




Foto: Igor Mota
 
Em 2011, o Ver-o-Peso completou 384 anos de existência, ainda com o título de principal cartão postal de Belém. São quase quatro séculos presente no imaginário do paraense. Mais do que a face de Belém, o complexo do Ver-o-Peso é uma mistura dos mais variados personagens do cotidiano da cidade, por meio das mais distintas relações de trabalho e sabedoria.



É o pescador que chega antes do amanhecer para abastecer as feiras e supermercados da capital, o vendedor que compra o pescado para revender ali mesmo, na pedra do Ver-o-Peso ou no Mercado de Ferro; o dono da banca que fornece o peixe frito na feira, junto com o açaí que vem das ilhas e é distribuído para toda a Região Metropolitana. Em meio a todo esse movimento, estão as vendedoras de ervas, que fornecem sabedoria popular, junto com banhos e perfumes para atrair sorte, casamentos, prosperidade e saúde.

É esta a economia que circula pelo Ver-o-Peso e que despertou a atenção da antropóloga Wilma Leitão, da Universidade Federal do Pará (UFPA), "O Ver-o-Peso é o mundo do trabalho, não somente porque funciona 24 horas por dia, durante o ano inteiro, como também por apresentar diferentes relações de trabalho", frisou a pesquisadora. Ela reuniu em um livro, intitulado 'Ver-o- Peso: Estudos antropológicos no mercado de Belém', a produção intelectual de diversos pesquisadores que voltaram os seus estudos para o principal cartão postal de Belém.

"O Ver-o-Peso é um campo de estudos que sintetiza a felicidade para sociólogos e antropólogos. Nele podemos estudar os aspectos religiosos, políticos, sociais e culturais", apontou. Apesar de ser o cartão postal que mais traduz a face de Belém, a pesquisadora prefere não afirmar que todo belenense conhece o Ver-o-Peso. "O Ver-o-Peso está completamente no imaginário do belenense, mas isto não significa que todos os que morem em nossa cidade conhecem os componentes do Ver-o-Peso, que são as frutas, as ervas, os cheiros, os sabores; tudo o que define os nossos produtos regionais".

Neste sentido, o Ver-o-Peso serve de objeto de estudo por concentrar num único universo regional produtos, costumes, formas de falar, de se cumprimentar, de negociar e se relacionar. "Tudo o que o pesquisador quiser tem ali", brincou Wilma.

Para ela, o que difere o Ver-o-Peso das demais feiras livres que existem na América Latina não é a sua dimensão, e sim o hábito e os costumes que nele existem. "Uma característica bem comum é a prática de se falar que os produtos vendidos no Ver-o-Peso são os de melhor qualidade", observou.

Esta pratica fortalece a confiança entre consumidor e feirante. "O consumidor que frequenta o Ver-o-Peso é habitual. Ele vai sempre lá. Praticamente só compra no Ver-o-Peso". No aspecto da geração de renda - uma das particularidades levantada pela antropóloga - o Ver-o-Peso apresenta uma característica bem peculiar, que é a relação entre renda e escolaridade dos feirantes. "Muitas pessoas acreditam que aqueles trabalhadores estão ali porque não tem estudo. De fato, podem até não ter, mas no final do mês, se a gente for perceber, a renda deles é tão igual, muitas vezes superior, a de quem tem graduação. Querendo ou não, isto é uma particularidade", analisou.

Por atender as necessidades de vendedores, consumidores e comerciantes, o Veropa, como também é chamada a feira livre, consegue se autorregular diariamente. "Um exemplo disto são as erveiras, que às vezes compram de mateiros e depois vendem para o consumidor direto e até para comerciantes", observou.

Quanto ao artesanato vendido na feira do Ver-o-Peso, poucos são para consumidores. "Os produtos artesanais são vendidos para outros artesãos, que revendem o que encontram ao recorrer ao Ver-o-Peso para ter matéria-prima", comentou Leitão.

Figuras
Neste cenário de autorregulação, relações socioeconômicas de hábitos e culturas, Wilma Leitão chama atenção entre os personagens que circulam diariamente pela feira do Ver-o-Peso. Um deles é o carregador, figura que, para a antropóloga, é conhecedora de técnicas e que transita por entre os mais diversos atores sociais. "O carregador tem um papel fundamental para o abastecimento das barracas, além disso, serve aos consumidores. São trabalhadores que exercem um cargo de confiança tanto do peixeiro quanto do consumidor", ressaltou.

Outro personagem é o feirante, cuja paixão pelo local de trabalho se destaca. "É comum a gente encontrar feirantes que dizem que o Ver-o-Peso é a vida deles. Com o que ganham lá, sustentam os filhos. Aprenderam com os pais a trabalhar na feira e hoje ensinam os filhos", comprovou Wilma.
Outro personagem é a pessoa que vai regularmente à feira, e que ajuda aquele espaço a se renovar dia e noite.